Alabaster Box

Violência no ambiente escolar e a "militarização" das escolas públicas

Luciano Silva Gomes, 1º tenente da Polícia Militar, comandante do 1º Pelotão Operacional da 1ª companhia independente de Polícia Militar na cidade de Arraias, bacharel em Direito e em Segurança Pública, especialista em docência do ensino superior e gestão pública.
 
Recentemente dois casos de violência em escolas causaram grande repercussão na mídia nacional. Um professor de uma estadual da cidade de São Cristóvão no estado de Sergipe foi baleado por um aluno de 17 anos que estava insatisfeito com a nota que recebera. No mesmo estado, mas agora na capital, a diretora de uma escola municipal foi espancada e golpeada com uma caneta por um adolescente de 16 anos que acabara de suspender por ter causado uma explosão dentro do banheiro da escola. Casos como esses não são isolados. Os profissionais da educação, principalmente aqueles que prestam os seus serviços em escolas públicas espalhadas pelo Brasil, são vítimas de violência todos os dias. E não só violência física. Educadores são ameaçados por alunos e por seus pais insatisfeitos com as notas baixas de seus filhos.

A situação é tão grave que não se trata mais de uma problemática da área educação. Alguns estados veem o assunto como matéria de segurança pública e, assim sendo, problema a ser resolvido pela polícia, nesse caso, a Polícia Militar. Em vários estados brasileiros, sob os protestos de especialistas em educação, a Polícia Militar ou os Corpos de Bombeiros Militares, têm assumido a administração de escolas públicas, principalmente àquelas em áreas de grande risco social. Já nos primeiros anos os resultados aparecem: os casos de violência escolar contra educadores e alunos são praticamente extintos, o tráfico e o uso de drogas também; o rendimento escolar melhora consideravelmente como mostram os indicadores que avaliam a educação.

Para ser ter uma ideia, no Estado de Goiás as 5 melhores escolas públicas são administradas pela Polícia Militar goiana. Na Bahia, as seis melhores escolas públicas também são administradas pela Polícia Militar. No Ceará a melhor escola pública do estado é administrada pela PM e a 4ª melhor escola é administrada pelo Corpo de Bombeiros Militar. No Distrito Federal a melhor escola pública é o Colégio Dom Pedro II, sob o comando e responsabilidade do Corpo de Bombeiros Militar. Aqui no Tocantins o Colégio da Polícia Militar já é uma das melhores escolas públicas, apesar de ter pouco mais de anos de criação (Os resultados foram disponibilizados pelo O GLOBO em: http://infograficos.oglobo.globo.com/sociedade/educacao/consulte-a-media-da-sua-escola-no-enem-2013.html. Acessado em 02 de janeiro de 2015).

Os valores militares de hierarquia e disciplina tem se mostrado essenciais na construção de ambientes escolares favoráveis a construção do saber, bem como contribuído na construção positiva de relacionamentos saudáveis dentro dessas unidades de ensino. Professores tem sua autoridade respeitada por alunos, pais e militares; alunos são desafiados a buscar o melhor desempenho pedagógico para alcançar as honrarias conferidas pela escola aos melhores; pais são acionados para comparecer a escola todas as vezes que os alunos comentem as mínimas transgressões ao regimento escolar e alertados sobre a necessidade de cobrar dos filhos a postura e compostura necessária ao bom andamento de sua vida escolar.

O uso do fardamento é obrigatório todos os dias da semana e deve estar sempre bem alinhado. O corte de cabelo, para os alunos, deve obedecer a altura prevista no regimento interno. Para as alunas deverá estar sempre preso. Os horários devem ser cumpridos com rigor. Os professores não perdem tempo de aula fazendo chamadas ou conferindo os faltosos. As turmas são apresentadas ao mestre pelo aluno chefe de turma assim que este entra em sala. Com professores e demais servidores civis e militares é obrigatório o uso do tratamento “senhor” ou “senhora”. Semanalmente, na maioria dessas escolas, ocorre uma chamada geral com todos os alunos onde ocorrem desfiles e instruções de caráter geral sobre a vida escolar ou os atos de cidadania que devem praticar fora dos muros da escola. Enfim, existe toda uma rotina diferenciada que contribui sobremaneira com a formação de alunos que respeitem a autoridade que esteja sobre eles, dentro e fora da escola.

Entretanto, apesar desses resultados positivos, há ainda - por parte de uma parcela da população em geral e por parte de estudiosos na área da educação – um certo preconceito ou resistência quando se fala em escolas administradas por militares. Talvez, pelo fato de tal administração remeter alguns aos tempos cinzentos da ditadura, levando-os a acreditar que os princípios trabalhados nessas escolas cerceiem a liberdade criativa e individual dos alunos, tornando-os apenas robôs, cumpridores cegos de regras.

Contudo, os altos índices de violência nas escolas públicas, principalmente nos grandes centros urbanos, tem tornado a alternativa de “militarizar” escolas cada vez mais comum. Em primeiro lugar por ser uma opção de baixo custo. Segundo: a opção alcança não apenas a escola, mas toda a comunidade em que ela esteja inserida. Talvez se trate de apenas mais uma resposta imediatista ao grave problema da violência dentro das escolas públicas brasileiras, mas dentro de colégios militares, situações como as ocorridas em Sergipe, são inimagináveis de acontecer.
 

0 comentários:

Postar um comentário