Um jornalista norte-americano me surpreendeu outro dia ao afirmar: "A graça de Deus é injusta e escandalosa". Num primeiro momento, fiquei chocado. Depois, concluí que a graça de Deus é injusta para a justiça humana. Ela não se adapta à justiça deste mundo de desgraça.

Uma graça que perdoa, bonifica e transforma um marginal miserável em um cidadão do Céu é, aos olhos humanos, por demais injusta.

Lembro-me da cruz de Cristo. Ao lado do Senhor, um bandido sentenciado à morte por seus crimes. Exposto à vergonha, ele contempla o Salvador. Em seguida, repreende aquele que está do outro lado zombando do Filho de Deus e, olhando novamente para Jesus, exclama: "Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino." (Lc 23.42)

Um homem que só fez o mal agora pede perdão. Alguns pensam: "Só fez o mal a vida inteira e agora quer ser bonzinho?" Jesus, no entanto, diz: "Hoje estarás comigo no Paraíso." (v 43)

A resposta de Jesus ao ladrão contraria o senso de justiça usual. Do ponto de vista das instituições, jamais um bandido deveria ser convidado a ser cidadão de qualquer país, muito menos do Céu. Pessoas com um comportamento maligno, como o daquele ladrão, devem ser separadas do convívio social. Mesmo na atual tendência de penas alternativas, tal delinqüente dever ter seus direitos e liberdades limitados e em labor compensativo. A resposta de Jesus e por demais injusta à sociedade.

Mesmo no plano [ de outras religiões ], Cristo contraria o senso comum. A despeito da delinqüência daquele homem, Jesus não diz ser necessário:

1) que ele pagasse alguma pena espiritual para depois ir ao Céu;

2) Ele [ Jesus ] dispensa a REENCARNAÇÃO como mecanismo de purificação.

3) Torna inoperante os 12 passos do budismo para a purificação;

4) bem como as penitências católico romanas.

5) Nem ao menos menciona um desequilíbrio de energia cósmica, como ensina a Nova Era.

6) Não manda o ladrão meditar nem buscar energias.

7) [ Jesus não lhe exige passar pelo purgatório purificador. ]

8 ) [ Se fosse no século 20 não pediria para ele seguir ensinamentos de certas denominações religiosas que pregam que não há salvação fora da sua instituição. ]

9) [ Não pede para praticar as boas obras para possuir melhores vidas nas reencarnações vindouras como condição de evolução espiritual até atingir a perfeição (espírito perfeito). ]

10) [ Não pede para ele desenvolver sua mediunidade para servir ao próximo como se a salvação viesse pelas boas obras. ]

11) E, embora [ o ladrão da cruz ] fosse judeu, não diz para a família desse ladrão oferecer um SACRIFÍCIO DE ANIMAIS para cobrir seus pecados.

Tudo se resolve com uma simples declaração:"Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso."


- DOM DE DEUS:

Paulo ensina que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e que a justificação é pela graça divina, pela redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.23-24).

Cristo pagou nossa culpa com seu próprio sangue (Hb 10.12-14).

Não há ninguém, por mais rico que seja, que compre a sua justificação espiritual (1Pe 3.18-19). Todo sacrifício para salvar-se é ineficaz, "porque [ somente ] pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é DOM DE DEUS. Não vem DAS OBRAS, para que ninguém se glorie." (Ef 2.8-9)


Jesus escandalizou o sistema religioso de sua época ao oferecer perdão e graça aos marginalizados, só RECOMENDANDO que não PECASSEM MAIS.

...

Jesus os perdoou e mandou seguirem em paz. Ele jamais exigiu sacrifícios, purgações, CARMAS ou outros cansativos [ e inexplicáveis exigências ] das religiões.

Compreendo porque aquele jornalista chamou a graça de Deus de injusta e escandalosa:

1) É injusta porque nosso sistema de justiça é o da NÃO-GRAÇA;

2) É escandalosa porque tira nossas MÁSCARAS e nos diz que nosso pecado é semelhante ao dos MALFEITORES.


Para Deus não há acepção de pessoas. Somos carentes da graça e não podemos fazer nada para merecê-la ou não. Ela é dada indistintamente a todos.


Escrito por Jossy Soares (membro da AD em Cuiabá, MT):
Fonte: Revista Pentecostes, novembro de 2000, págs. 12 e 13

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