Não é preciso ser conservador para ver que “diferentes”
significa, quase sempre, “pior”
Por Charles C. W. Cooke
Em seu novo estudo publicado pela Social Science Journal, Mark Regnerus faz uma pergunta: “Quão diferentes são os adultos criados por pais que possuem relacionamentos homossexuais?” A resposta para isso – tanto na literatura acadêmica quanto no imaginário do público americano – mudou dramaticamente em menos de uma geração. “Quinze anos atrás”, explicou Regnerus em um evento no neutro Institute for American Values, famílias biológicas heterossexuais eram “consideradas reflexivamente como o melhor ambiente para crianças”. Subsequentemente, isso deu lugar para a noção de que não havia “nenhuma diferença significativa” na criação de crianças em arranjos familiares não-tradicionais. Finalmente, sugeriu-se que crianças “podem se sair melhor sendo criadas por um casal gay”.
Ainda que haja pouquíssimas evidências que dão suporte a essa conclusão, defensores do casamento homossexual e da adoção gay declararam que a ciência já o provou. Talvez a mais famosa dessas declarações é um artigo de 2010, escrito pelos cientistas sociais Judith Stacey e Timothy Biblarz, que propalou que “baseado estritamente em publicações científicas, pode-se argumentar que duas mulheres criam uma criança melhor do que uma mulher e um homem, ou pelo menos uma mulher e um homem com uma divisão tradicional de papéis familiares”. Esse argumento – de que pais homossexuais são iguais ou melhores do que as estruturas familiares tradicionais – encontrou seu caminho em nosso diálogo acadêmico, legal e cultural, e raramente é questionado. Daí a declaração da Nona Corte de Apelação: “Crianças educadas por pais gays ou lésbicas podem ser tão saudáveis, bem-sucedidas e bem-ajustadas quanto crianças educadas por pais heterossexuais. Pesquisas que apontam para essa conclusão são indubitavelmente aceitas no campo da psicologia do desenvolvimento.”
O estudo de Regnerus foi desenvolvido para reexaminar essa questão – uma tarefa difícil, para dizer o mínimo – ao expandir a amostragem analisada e aprimorar a metodologia das pesquisas anteriores. O Censo dos EUA, por exemplo, coleta uma porção de informações úteis, mas, por não conter questões sobre orientação sexual, muito de sua contribuição ao assunto deve ser inferido. Da mesma forma, muitos estudos acadêmicos que utilizam a “técnica bola-de-neve” de amostragens pequenas – um processo no qual os sujeitos que participam do estudo recrutam pessoas conhecidas para participarem dele – podem ser confusos. Um desses estudos, abordado no artigo de Regnerus, analisou mulheres que leem jornais e frequentavam livrarias e eventos lésbicos; o problema com essa abordagem popular é que ela restringe a amostragem aos mais educados, ricos e socialmente similares, resultando em uma compreensão limitada. Estudos assim pulularam nos últimos anos.
Em busca de suas respostas, Regnerus entrevistou 15.088 pessoas. Destas, os pesquisadores encontraram 175 pessoas que foram criadas por mães que estavam em um relacionamento lésbico, e 73 pessoas que foram criadas por pais que tiveram relacionamentos gays – ainda assim, um grupo relativamente pequeno.
A primeira coisa que Regnerus descobriu foi que residências gays com crianças são localizadas nas mesmas áreas geográficas que os lares de casais heterossexuais com crianças. Ao contrário do que se pensa, não há concentração real de crianças onde gays vivem em massa. Por exemplo, como há poucas crianças nas residências de San Francisco, há também poucas crianças vivendo com gays em San Francisco. De fato, a Georgia é o estado com mais crianças vivendo com casais do mesmo sexo. Apesar da fama de serem menos amigos dos gays, os estados do Meio-Oeste americano estão bem representados na medição demográfica de casais gays com crianças. E, fazendo jus à tendência geral, casais gays latinos têm mais crianças do que casais gays brancos.
Regnerus descobriu que as crianças do estudo raramente passaram suas infâncias inteiras nas casas de seus pais gays e seus parceiros. Apenas dois dos 175 sujeitos que declararam ter a mãe em um relacionamento lésbico passaram toda a sua infância com o casal, e nenhuma criança estudada passou toda sua infância com dois homens gays. Os números também caem bastante quanto ao tempo decorrido: por exemplo, 57% das crianças passaram mais do que 4 meses com mães lésbicas, mas apenas 23% passaram mais de 3 anos com elas. Isso é muito interessante, mas tem implicações sérias para o estudo – implicações sobre as quais voltarei a falar depois.
Por último, Mark Regnerus buscou responder se as crianças com pais em relacionamentos homossexuais experimentaram desvantagens quando comparadas com crianças criadas por seus pais biológicos. A resposta, contra o zeitgeist, parece ser um retumbante sim. Crianças com pais em relacionamentos homossexuais possuem baixo desempenho em quase todos os quesitos. Algumas dessas diferenças podem ser relativamente inofensivas – como em que presidente votaram na última eleição, por exemplo –, mas a maioria não é. Um déficit é particularmente preocupante: menos de 2% das crianças de famílias biológicas intactas sofreram algum tipo de abuso sexual, mas o número correspondente às crianças de casais homossexuais é de 23%. Igualmente perturbador é que 14% das crianças de casais homossexuais passaram algum tempo em abrigos temporários, comparado com 2% do total da população americana. Índices de prisão, contato com drogas e desemprego são bem maiores dentre filhos de casais homossexuais.
O que podemos concluir disso? Bom, é aqui que a coisa se complica. Comparar filhos de pais homossexuais com o “padrão-ouro” – ou seja, pais biológicos que permaneceram casados – é problemático. Dado como o estudo foi feito, alguém poderia perguntar justamente se a questão não é tanto a comparação entre criação homossexual e criação heterossexual, mas entre instabilidade e estabilidade na infância. Por definição, qualquer filho de duas pessoas do mesmo sexo sentirá falta de pelo menos um de seus pais biológicos e provavelmente experimentará alguma instabilidade em mudar da díade biológica para qualquer arranjo que a substitua. E, como explicado acima, a maior parte dos sujeitos do estudo passaram apenas alguns anos com pais do mesmo sexo, o que torna provável que seu arranjo familiar mudou mais de uma vez e, assim, resultou em uma infância instável.
Ademais, dado que o estudo é um retrato de um período de tempo que precedeu a legalização do casamento homossexual (em alguns estados), alguém poderia especular que o estigma social teve seu papel nos dados de Regnerus, e que tal estigma terá um efeito menor em pesquisas futuras. De fato, poder-se-ia afirmar que o estudo de Regnerus poderia ser utilizado para justificar o casamento gay no sentido de que desaprovação social a casais gays não-casados gera a própria instabilidade que leva as crianças a passar por experiências negativas: o casamento de parceiros gays leva ao melhoramento da estabilidade familiar e, portanto, é benéfica para as crianças. Considero isso como um passo muito avançado, pois o alto índice de divórcio entre os gays não indica que casais homossexuais serão em breve um modelo de estabilidade –, mas pode merecer alguma reflexão.
O estudo de Regnerus é um sucesso na medida em que responde à questão fundamental se crianças educadas por casais homossexuais são diferentes: está claro que sim, e não é preciso uma opinião conservadora para ver que “diferentes” significa, quase sempre, “pior”. É discutível, todavia, se isso é culpa das famílias homossexuais ou da instabilidade. De fato, a maior conclusão do relatório não é de que famílias homossexuais sejam negativas, mas mais uma afirmação de que famílias biológicas intactas são uma positivas. De modo simples, se você quer que seus filhos tenham uma vida melhor, você deveria tê-los dentro de um matrimônio e mantê-lo firme. Mas isso nós todos já sabíamos.
Charles C. W. Cooke é editor associado da National Review, onde este artigo foi originalmente publicado.
Tradução: Felipe Melo, editor do blog da Juventude Conservadora da UnB.
Fonte: A Pena Afiada, Real Talk Radio.
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