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Como seriam as 95 teses de Lutero nos dias atuais?


Prof° Pedro Carbone Filho

Se Martinho Lutero estivesse vivo e resolvesse reescrever suas 95 teses a serem afixadas na porta principal da Catedral de São Pedro (Vaticano) e de outros templos de grandes cidades do mundo católico romano, como seriam elas?

Talvez assim:

1- A Igreja Católica Apostólica Romana passa a denominar-se simplesmente “Igreja Cristã”, partindo do pressuposto de que se a Igreja é de Cristo dispensa o qualificativo “apostólica”; ademais, caso insistisse no termo “católica” (universal), não seria cabível o adjetivo “romana” e vice-versa;

2- A Igreja de Roma renuncia à pretensão de ser “a Santa Madre Igreja”, considerando-se que esse privilégio caberia à Igreja Cristã de Jerusalém, onde os cristãos se congregaram pela primeira vez (Atos cap. 1 e 2);

3- Assim, reconhece todas as igrejas verdadeiramente cristãs como “coirmãs” e não como “deficientes”, abdicando da pretensa condição de “única igreja cristã verdadeira” ou de “único caminho para a salvação”, vez que essa prerrogativa cabe ao próprio Cristo, como caminho, verdade e vida (João 14:6);

4- A Igreja deixa de ter um chefe político-religioso (papa), que renuncia imediatamente ao seu cargo e ao seu poder temporal;

5- O papa também renuncia aos seus atuais títulos, direitos e prerrogativas, como por exemplo: “Vigário de Cristo na Terra”, “Vigário de Deus”, “Suces-sor de Pedro”, “Sumo Pontífice”, “Cabeça ou Chefe do Colégio dos Bispos”, “Primaz da Itália”, “Soberano Supremo da Igreja e do Mundo”, “Soberano do Vaticano”, “Bispo Universal” e outros semelhantes, reconhecendo o Espírito Santo como único líder espiritual;

6- Como não há provas históricas suficientes para afirmar que Pedro foi bispo em Roma (e muito menos o primeiro papa), ou que tenha originado a chamada “sucessão apostólica”, essas pretensões serão eliminadas dos documentos oficiais e oficiosos da Igreja;

7- A Igreja abre mão de qualquer suposta autoridade do papa sobre a “igreja militante, purgante e triunfante”, inclusive sobre as almas dos fiéis mortos, no sentido de ligar ou desligar, visto que após a morte ocorre imediatamente o juízo divino (Heb 9: 27) e os vivos não têm o poder de interferir no destino dos mortos;

8-Fica sem efeito o decreto da “Infalibilidade Papal” promulgado por Pio IX em 1870, relativo à palavra do papa “ex-cathedra”, considerando-se que todos os líderes religiosos, assim como os demais seres humanos, são falíveis e pecadores;

9- Fica abolida a doutrina da “supremacia universal da jurisdição de Roma”, tendo em vista o conceito neotestamentário de “igrejas” – assembleias locais, autônomas e independentes, sem governo centralizado;

10- Considera-se revogado o atual sistema jurisdicional de dioceses e arquidioceses, passando as congregações a ser livres, autônomas e independentes entre si para decidirem seus destinos e escolherem seus líderes pelo voto democrático;

11- A Igreja abre mão do tratado que lhe permitia governar o Estado do Vaticano como país independente; portanto, esse território será incorporado à cidade de Roma, passando a ser administrado como um museu religioso e cultural aberto a toda a população;

12- Fica abolido o Código de Direito Canônico, passando a se reger única e exclusivamente pela orientação de Cristo e dos Apóstolos nas Sagradas Escrituras. As igrejas locais poderão ter seus estatutos e regimentos internos que não poderão contrariar o espírito nem a letra da Palavra de Deus;

13- Todo o rígido sistema hierárquico (papa, cardeais, arcebispos, bispos, padres, monges, abades, freiras, madres superioras, etc) fica cancelado, devendo os líderes locais ser denominados bispos (ou pastores) e diáconos, a critério de cada paróquia;

14- Também fica extinto o sistema de hierarquia, titulação, distinção ou dife-renciação entre templos (capela, igreja matriz, sé, catedral, basílica maior ou menor, etc), considerando-se o exposto no item anterior;

15- Os líderes locais não mais serão considerados nem chamados sacerdotes, visto que o sacerdócio e os sacrifícios foram abolidos por Jesus Cristo, nosso Único Sacerdote e Mediador;

16- Não mais serão usados: báculos, mitras, barretes, tiaras, coroas, tronos, anéis, casulos, mesetas, estolas, batinas, mantos, paramentos, escapulários, pálios, sobrepelizes, roquetes, faixas, solidéus, luvas de seda, sapatos de pelica, papamóveis ou quaisquer outros objetos que denotem privilégio, distinção ou hierarquia entre os líderes religiosos;

17- Também não mais serão utilizados trajes especiais e formas de tratamento que promovam qualquer tipo de distinção ou discriminação entre clérigos e leigos, pois todos são iguais em Cristo;

18- Fica reestabelecido o sacerdócio universal de todos os crentes, confor-me preceituado na Primeira Carta de Pedro, cap. 2: 9;

19- A Igreja reconhece estar alicerçada sobre o fundamento de Cristo e dos Apóstolos e não somente sobre Pedro (I Cor. 3: 11);

20- A Igreja concorda com a separação entre Igreja e Estado e abre mão do status de “igreja oficial” nos países em que porventura detenha esse privilé-gio, recusando qualquer subvenção dos poderes públicos e ombreando-se com os demais sistemas religiosos;

21- Em decorrência, reconhece o direito de todos os povos à plena liberdade religiosa, de consciência, de opinião, de imprensa, de pensamento e de expressão;

22- É definitivamente extinta a Santa Inquisição criada em 1184, que ainda sobrevivia disfarçada sob a forma de “Santo Ofício” ou “Congregação para a Doutrina da Fé”;

23- Também são extintas todas as ordens religiosas e outras organizações semelhantes criadas pela Igreja;

24- As missas cedem seu lugar aos cultos, como na igreja primitiva, com ênfase na pregação do evangelho;

25- A Igreja reconhece que o sacrifício de Cristo foi suficiente para consumar a salvação (Hebreus 9:22-28 e 10:8-14), não havendo necessidade de tentar repeti-lo de forma incruenta através das missas;

26- Em consequência, passa a ensinar a doutrina da salvação pela graça mediante a fé somente, sem concurso de obras (batismo, missas, sacramentos, penitências, caridade, etc), conforme Efésios cap. 2;

27- Somente ingressarão na igreja as pessoas regeneradas, isto é, as que se arrependeram dos seus pecados e creram em Cristo como único e suficiente Salvador Pessoal, após batismo por imersão;

28- Ficam, pois, abolidos o batismo infantil (instituído em 416) e o batismo mediante outras formas (oficializado no Século XIII), além do batismo de si-nos, de prédios, igrejas, residências, etc;

29- Os líderes religiosos de ambos os sexos são desobrigados do celibato obrigatório decretado em 1079, ficando a critério pessoal a decisão de casarem-se ou de permanecerem solteiros (as);

30- Os líderes que, em virtude do matrimônio, foram afastados de suas fun-ções, serão reintegrados ao ministério pastoral, caso assim o solicitem às igrejas locais;

31- A Igreja reconhece que o culto a Maria e aos santos é prática espírita, pois está-se invocando os mortos; mesmo que exista a possibilidade de tal comunicação, ela é proibida e condenada pela Bíblia;

32- Em decorrência, fica abolido o culto a Maria, aos santos e aos anjos, mesmo sob a forma de festas, comemorações, veneração, dulia ou hiperdulia. Os verdadeiros santos continuarão a ser objeto de reverência, e suas vidas servirão de exemplo para os fiéis;

33- Também ficam proibidos: cânticos, orações, preces, ladainhas, rezas ou súplicas dirigidas a Maria, aos anjos e aos santos mortos, como por exem-plo as rezas denominadas “Ave Maria” e “Salve Rainha”;

34- Todas as rezas, terços, novenas, rosários e outras formas mecânicas e repetitivas de proferir orações são doravante consideradas contrárias aos ensinos de Cristo no Sermão da Montanha. Os fiéis deverão orar seguindo o modelo do “Pai Nosso”;

35- Não mais serão beatificadas ou santificadas pessoas vivas ou mortas, sendo considerados nulos os processos em andamento. Assim, todos os verdadeiros crentes são santos, conforme ensina a Palavra de Deus (I Pedro 1:15 e 16);

36- Qualquer tipo de idolatria, manifesta ou disfarçada sob a forma de veneração, fica terminantemente proibida, devendo ser retirados dos templos os ícones, crucifixos, imagens, relíquias de santos e outros objetos perante os quais as pessoas possam se ajoelhar;

37- Os livros apócrifos (ou deuterocanônicos) e outros acréscimos, autorizados oficialmente pelo Concílio de Trento (1546), serão expurgados da Bíblia, posto que não foram divinamente inspirados e nunca fizeram parte do cânon do Velho Testamento;

38- Todo o sistema de indulgências instituído em 1190 será definitivamente cancelado;

39- O dogma da transubstanciação, ou seja, da suposta transformação dos elementos da ceia no corpo e no sangue de Jesus após abençoados pelo ministrante, é substituído pela Ceia do Senhor, de caráter memorial, conforme as palavras do próprio Cristo: “Fazei isto em memória de mim” ;

40- A Ceia do Senhor (não mais “eucaristia” ou “comunhão”) deverá ser celebrada sempre mediante a utilização dos dois elementos (pão e vinho), que serão distribuídos a todos os crentes;

41- Considera-se extinto o uso da chamada “hóstia”, instituída em lugar do pão por volta do ano 1200;

42- Assim, fica sem efeito a elevação e adoração da hóstia, determinada pelo Papa Honório III em 1220;

43- O dogma do purgatório, decretado em 593 por Gregório I, é considerado nulo;

44- Também fica cancelado o dogma da Dormição e Assunção de Maria (proclamado em 1950 pelo papa Pio XII);

45- O dogma da “Imaculada Conceição de Maria”, decretado em 1854, é revogado, ou seja, a igreja ensinará que Maria foi concebida em estado de pecado original como os demais seres humanos;

46- A Igreja anuncia o fim da confissão auricular decretada em 1216; doravante os fiéis confessarão seus pecados diretamente a Deus;

47- Reconhece, portanto, que nenhum líder religioso, nem o papa, tem poder para conceder a absolvição dos pecados, mesmo após cumpridas as penitências impostas;

48- Fica proibido o uso de água benta (água misturada com um pouco de sal e abençoada por sacerdote), óleo santo e ramos bentos;

49- Também são vedadas as velas de cera e círios (de origem pagã e utilizados pelo romanismo desde o ano 320);

50- Não mais serão oficiadas rezas pelos mortos, missas de corpo presente, missas de 7º dia, de 30º dia, de um ano, etc, pois também são de origem pagã, inócuas e contrárias aos ensinos bíblicos;

51- Não mais serão observados jejuns durante os dias da Quaresma e nas sextas-feiras (decretados no ano 998);

52- Fica cancelada a prática do “beija-pé” ou “beija-mão” do papa e de qual-quer líder religioso (decretada em 709 pelo Papa Constantino);

53- O Colégio dos Cardeais (em vigor desde 927) será desativado e substituído por convenções ou congressos abertos a todos os fiéis;

54- A igreja não mais ensinará sobre a classificação de pecados (mortais e veniais);

55- Ficam proibidas as devoções ao Divino Pai Eterno, Sagrado Coração de Jesus, Coração de Maria, Corpus Christi, Via Crucis, Rosário, Cristo Rei, Imaculada Conceição, etc, por configurarem idolatria;

56- Será repelida qualquer menção ao conceito da regeneração batismal, tendo em vista a suficiência do sacrifício de Cristo e a doutrina da salvação pela graça mediante a fé;

57- Cada indivíduo poderá interpretar as Escrituras por si próprio, sem depender do chamado “magistério oficial da Igreja”, que, a propósito, deixará de existir;

58- Fica cancelado o Dogma da Virgindade perpétua de Maria, decretado no ano 649, durante o Concilio de Latrão;

59- A igreja condena a intolerância e perseguição a quaisquer grupos religiosos (cristãos ou não cristãos, minoritários ou majoritários);

60- Fica abolido o conceito de “sacramento”, inexistente nas Escrituras; portanto o dogma dos “sete sacramentos” (eucaristia, batismo, crisma, ordenação, matrimônio, extrema-unção e penitência) passa a ser considerado anti-bíblico;

61- A igreja cancelará os anátemas lançados sobre a Reforma Protestante durante o Concílio de Trento, bem como outros constantes dos decretos papais, dirigidos àqueles que discordassem dos seus dogmas;

62- A igreja não mais ensinará o dogma da pretensa “autoridade de Pedro como detentor das chaves do Reino e da Igreja”, tendo em vista o conteúdo de Mateus 18:18;

63- Para elidir qualquer reivindicação de supremacia ou dominação por trás do chamado “ecumenismo”, esse movimento será desativado e desestimulado;

64- A Igreja pedirá publicamente perdão aos judeus, muçulmanos e demais cristãos pelo sangue derramado na Inquisição, nas Cruzadas, guerras santas, Noite de São Bartolomeu, etc;

65- Nem a extrema-unção (adotada em 526), nem o viático serão administrados aos doentes e moribundos; os fiéis deverão apenas orar pelos enfermos;

66- Não será admitido o uso do latim nas missas, nem mesmo em ocasiões solenes;

67- Penitências não mais serão exigidas nem admitidas: os fiéis deverão experimentar sincero arrependimento e abandonar o pecado;

68- A igreja repudia qualquer contaminação ou influência do paganismo sobre a pureza das doutrinas bíblicas e veda qualquer cumplicidade e co-participação no sincretismo religioso espírita e pagão;

69-Não será permitida nem patrocinada qualquer modalidade de romaria e de procissões de imagens (terrestres, marítimas ou fluviais);

70- A igreja lamenta ter emitido, no passado, decreto proibindo a leitura da Bíblia; doravante os fiéis serão estimulados ao estudo das Escrituras;

71- Todos os catecismos serão cancelados, a igreja determinará o uso da Bíblia como única regra de doutrina, fé e prática;

72- A igreja não mais adotará o uso dos “credos”; para fins teológicos serão considerados válidos apenas o Credo dos Apóstolos e o de Niceia;

73- É abolido o sinal da cruz, considerado superstição;

74- Também é proibido o culto à cruz, relíquias e imagens (vigente desde o ano 786);

75- A igreja passar a glorificar única e exclusivamente a Deus, a Cristo e ao Espírito Santo, que é o Consolador, Mestre e Orientador da Igreja prometido por Cristo;

76- A igreja não estimulará a vida religiosa reclusa em mosteiros ou claustros;

77- A cerimônia do lavapés não mais será obrigatória;

78- A igreja reconhece o princípio da “sola scriptura” e considera a Bíblia como única fonte de revelação; destarte a chamada “tradição apostólica” se resume aos escritos constantes do Novo Testamento, sendo desprezada a “tradição oral” e outros acréscimos posteriores aos pontos de doutrina;

79- Não mais serão empregados, em relação a Maria, por serem contrários às Escrituras, epítetos tais como: Nossa Senhora, Mãe de Deus, Mãe da Igreja, Rainha das Famílias, Rainha do Céu, Mãe de todas as graças, Mãe do Criador, Intercessora, Imaculada, Virgem das Virgens, Rainha dos Anjos, Rainha dos Profetas e dos Patriarcas, Rainha dos Apóstolos, Rainha dos Confessores, Rainha dos Mártires, Rainha de todos os Santos;

80- São condenados e proibidos os cultos a “Madonas” e “Nossas Senhoras” – Aparecida, de Lourdes, de Nazaré, de Fátima, do Perpétuo Socorro, de Guadalupe, da Conceição, do Rosário, do Carmo, da Candelária, da Penha, de Caravaggio, dos Navegantes, das Graças, das Dores e tantas outras;

81- Será abolida qualquer referência a Maria como “co-redentora”, visto que o nosso único e suficiente Redentor é Cristo;

82- A igreja condena a instituição de padroeiros de profissões, de cidades, países, instituições, etc;

83- Fica extinto o calendário litúrgico católico – Ano Mariano, Jubileu, quaresma, semana santa, etc;

84- Não mais serão emitidos os “Nihil obstat”, “imprimatur” e autorizações semelhantes;

85- Será abolida a comemoração do Dia de Finados, dias santos, isto é, consagrados aos santos e anjos, mantendo-se apenas o Natal e o Domingo da Ressurreição;

86- Será banido o uso do latim em documentos da igreja; somente as lín-guas oficiais de cada país serão admitidas;

87- Os 10 mandamentos serão ensinados como preceituados na Bíblia (Êxodo 20) e não como consta nos catecismos católicos (excluindo o mandamento que proíbe a idolatria);

88- Os fiéis estão proibidos de fazer promessas ou votos aos chamados “santos” e/ou aos anjos;

89- Qualquer reverência feita perante líderes religiosos que configure adoração (especialmente genuflexão) será terminantemente proibida;

90- O patrimônio imobiliário não consistente de templos, residências de religiosos, seminários, escolas, creches, asilos, museus, orfanatos e outros imóveis de uso constante da Igreja será alienado e a renda reverterá em benefício de obras missionárias ou assistenciais;

91- Os museus poderão ser doados às respectivas comunidades, ou a universidades e organizações (governamentais ou não) para uso de todos os cidadãos, a critério da (s) congregação (ões) de cada cidade;

92- Deverão ser instituídas escolas dominicais em todas as igrejas e os cha-mados “cristãos nominais” deverão ser evangelizados visando sua conversão genuína e sua participação ativa no Reino de Deus;

93- Será desestimulada e condenada toda e qualquer ligação com práticas animistas (acender velas, portar círios e talismãs), espíritas ou pagãs (horóscopos, mapa astral);

94- A liturgia será simplificada a fim de não mais se permitir cerimonialismo, luxo, pompa, farisaísmo, ostentação e rígidos rituais nos cultos;

95- Enfim, a Igreja deixa de ser “mariocêntrica” para ser cristocêntrica, assim como a igreja primitiva, adotando os lemas do Apóstolo Paulo: “Para mim o viver é Cristo” (Fil. 1:21a) e “Porque resolvi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (I Cor. 2:2).
Fonte: Rocha Ferida.

As 95 Teses de Martinho Lutero


Debate para o esclarecimento do valor das indulgências pelo Dr. Martin Luther, 1517


Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


1 Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.

7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.

15 Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.

18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza.

20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.

30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.

34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.

36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.

37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.

39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.

40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto.

41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.

44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.

49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59 S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.

61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa por si só é suficiente.

62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.

64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois faz dos últimos os primeiros.

65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.

68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.

69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.

71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram defraudar a santa caridade e verdade.

75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.

77 A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar, etc., como está escrito em 1 Co 12.

79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.

81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.

82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão insignificante?

83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84 Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?

85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso já há muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?

88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!

93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;

95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz.

1517 A.D.